quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Por onde andei

   É. Eu e meus sumiços oscilantes. Por onde andei? Ah, por ai... lutando contra alguns vícios e por vezes me rendendo, me adaptando a uma nova presença e tentando controlar minha pior versão, sentindo a frieza da abstinência de amigos, e o peso da incompetência em meus ombros.
  É engraçado, parar e dar a si mesmo um momento de respiro. Parece que isso dá uma visão geral e mais simples da vida, como se fosse um livro de apenas três páginas e de fácil compreensão. E aqui estou, aproveitando esse momento bom que se originou de um momento ruim. Analisando, ou melhor, simplesmente vendo. Olhando tudo o que passou, tudo o que está aqui e tudo o que está vindo. E é tudo tão grande e importante, porém tão simples! Sou apenas eu, lidando com meus próprios nós, que eu fiz. Será que é tão complicado assim? Eu tenho que dar às coisas um peso tão maior?
  Acho que estou enxergando os excessos. Sim, excessos! Algo que é de praxe do ser humano. E eu estou pronto. Pronto pra tirar essa parte da bagagem dos ombros, me despir desse adorno desnecessário, jogar fora esses trejeitos que não me pertencem, dar as costas a essa pessoa de maioria arrogante, excessivamente tensa e descontrolada.
  E depois de desmontar todo esse jogo, teatro, ou o que quer que seja, vejo que sei exatamente o que preciso e quero fazer.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O Bicho



o bicho vivia na mata; livre, selvagem, indomado
caçando se tinha fome, dormindo se tinha sono, copulando quando no cio
o bicho era bicho solto

um dia, um pedaço de carne numa clareira, e o bicho seduzido
o bicho era sorrateiro, apanhava a barganha e fugia rápido, quase imperceptível
e todo dia ele voltava naquele lugar
e todo dia havia pedaço de carne mais suculento que o anterior
conquistado pela oferta fácil e cada vez mais abundante
o bicho abriu a guarda
o bicho acostumou
o bicho foi aprisionado

colocaram-no numa gaiola
tiraram-no do seu mato
reproduziram seu ambiente em plástico
naquele zoo
o bicho estava para ser visto
o bicho estava domado
o bicho era bicho cativo

dia após dia gente passava pelo seu cárcere
olhavam-no com curiosidade, ofereciam-lhe alimento
esperavam ansiosamente o momento
em que o bicho fosse bicho
tão agradável e seguro que ele fosse bicho dali de dentro!
que deleite aquelas barras de ferro, que maravilha, finalmente temos o bicho!

mas o bicho, murcho. sem vida. sem cor.
sem saber se ainda era bicho, ou se era artefato
“queremos ver o bicho rugir!”- diziam
e o adestrador cutucava o bicho, espezinhava o bicho, provocava o bicho
o bicho rugia, toda a gente aplaudia
davam-lhe mais uma porção, e passavam adiante
o próximo bicho, o próximo habitat inventado

e ficou assim até o seu fim
criado domesticado, esperando uma mão entre as grades,
um pedaço de carne e um agrado,
alguém qualquer que quisesse seu rugido murcho de bicho- espetáculo.


"O bicho, meu Deus, era um homem."
Manuel Bandeira

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O último desabafo que faço por você


 E então você chegou. Tímida, isolada, sentou em uma das últimas cadeiras, no fundo da sala. Os cabelos presos em um rabo de cavalo perfeito, aquele típico All Star oscilando entre a cor braca e creme, e você mordendo a pontinha do dedo indicador com uma cara meio inexpressiva.
 Te observei, cada detalhe, cada ato. Não apenas pela beleza física, mas também por sentir que você exalava algo diferente. Emanava mais força do que delicadeza, transmitia uma naturalidade incrível, parecia possuir mais atitude do que a maioria das meninas de sua idade. E nossos olhares se encontravam. Você devia me achar muito estranho, e eu era (sou) mesmo!
 Você foi se enturmando, se abrindo, e começamos a conversar. Formamos aquele grupinho esquisito, porém legal, e você se mostrando e confirmando tudo o que eu já achava que fosse. O tempo agia, e junto dele meu sentimento por você se mostrava mais claro e mais forte, à cada prova de matemática, exercícios de genética e textos de filosofia.
 Vários olhares cobiçosos cairam sobre você, cantadas, caras querendo ficar com você e, olha só, até pedido de namoro aconteceu. E eu reprimindo a minha vontade de dizer o que você já sabia, mas queria ouvir da minha boca. Talvez eu não me achasse bom o bastante pra você, e este sempre foi o meu problema, "achar" demais, pensar em excesso. Perdi oportunidades com você, inclusive uma, que considero a mais importante, que surgiu numa certa noite de festa junina escolar. Aliás, você insiste em dizer que não se lembra do que aconteceu.
 Uma das melhores e piores características do ser humano é que ele se adapta às situações. E assim aconteceu. Vieram as crises de ciúme exagerado, perguntas incômodas, gastos absurdos com conta de telefone. Transformei meu MSN em um santuário seu. E me acomodei. Me acostumei com toda a situação.Você provavelmente foi se incomodando, ficando frustrada com minha falta de coragem e atitude. Mas você se divertiu também, não é? Riu do meu vício, da minha insistência em te colocar em um pedestal, do meu ciúme bobo e descontrolado. Mas isso não importa mais. Só te culpo pelo único fato de ter agido de uma forma que me fez permanecer neste erro ainda por um bom tempo.
 E hoje aqui estamos nós, ambos seguindo em frente, você insistente na arte de me ignorar. Mas eu precisava disso, precisava decretar o desabafo final. Achei que fosse algo parecido com a morte, em que você aprende a viver sem a pessoa, porém sempre sobra aquela saudade, até mesmo inaceitação, inconformidade. Mas eu estava errado. Tem sido bem mais fácil que isso.
 E caso chegue a ler isso algum dia, não se ofenda. Sou apenas eu, exercendo meu desapego.

domingo, 3 de abril de 2011

O Porteiro do Puteiro

 Não havia no povoado pior ofício do que 'porteiro do prostíbulo'. Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem? O fato é que nunca tinha aprendido a ler nem escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.
 Um dia, entrou como gerente do puteiro um jovem cheio de ideias, criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento. Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções.
Ao porteiro disse:
 - A partir de hoje, o senhor, além de ficar na portaria, vai preparar um relatório semanal onde registrará a quantidade de pessoas que entram e seus comentários e reclamações sobre os serviços.
 - Eu adoraria fazer isso, senhor - Balbuciou - Mas eu não sei ler nem escrever!
 - Ah! Quanto eu sinto! Mas se é assim, já não poderá seguir trabalhando aqui.
 - Mas senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisto a minha vida inteira, não sei fazer outra coisa.
 - Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo senhor. Vamos dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo que fazer. Eu sinto muito, e que tenha sorte.
 Sem mais nem menos, deu meia volta e foi embora. O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer?
 Lembrou que no prostíbulo, quando quebrava alguma cadeira ou mesa, ele a arrumava, com cuidado e carinho. Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado. Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas completa. Como o povoado não tinha casa de ferramentas, deveria viajar dois dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra. E assim o fez.
 No seu regresso, um vizinho bateu á sua porta:
 - Venho perguntar se você tem um martelo para me emprestar.
 - Sim, acabo de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar... já que...
 - Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.
 - Se é assim, está bom.
 Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e disse:
 - Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque você não o vende para mim?
 - Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens mais próxima está a dois dias de viagem sobre a mula.
 - Façamos um trato - disse o vizinho - Eu pagarei os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento. Que lhe parece?
 Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias... aceitou. Voltou a montar na sua mula e viajou.
 No seu regresso, outro vizinho o esperava na porta de sua casa.
 - Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu necessito de algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe seus dias de viagem, mais um pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho de tempo para viajar para fazer compras. Que lhe parece?
 O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi embora. E nosso amigo guardou as palavras que escutara: "não disponho de tempo para viajar para fazer compras". Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer as ferramentas...
 Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido. De fato, poderia economizar algum tempo em viagens.
 A notícia começou a se espalhar pelo povoado e muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas. Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam seus clientes.
 Com o tempo, alugou um galpão para estocar as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão e transformou o galpão na primeira loja de ferragens do povoado. Todos estavam contentes e compravam dele. Já não viajava, os fabricantes lhe enviavam seus pedidos. Ele era um bom cliente.
 O tempo passava, e as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua loja de ferramentas, do que gastar dias em viagens.
 Um dia ele lembrou de um amigo seu que era torneiro e ferreiro, e pensou que este poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo, por que não, as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras, etc... E após foram os pregos e os parafusos...
 Em poucos anos, nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico e próspero fabricante de ferramentas. Um dia decidiu doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício. No dia da inauguração da escola, o prefeito lhe entregou as chaves da cidade, o abraçou e lhe disse:
 - É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra de colocar a sua assinatura na primeira página do livro de atas desta nova escola.
 - A honra seria minha - disse o homem - Seria a coisa que mais me daria prazer, assinar o livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
 - O senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar - O senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado! Eu pergunto: o que teria sido do senhor se soubesse ler e escrever?
 - Isso eu posso responder - disse o homem com calma - Se eu soubesse ler e escrever... ainda seria o PORTEIRO DO PUTEIRO!!! 

sábado, 26 de março de 2011

Só de passagem...

 Oi! Muito tempo sem vir aqui! E nesse período de tempo, a mente fervendo em ideias. Mas parece que, pelo fato de estar escrevendo apenas pra eu mesmo, minha consciência ache que tais ideias devam ser preservadas apenas ali, dentro de mim, na mente. Provavelmente o maior motivo de estar demorando tanto pra postar algo.
 Mas tem outra coisa aí também, que não conspira à favor. É o caso, por exemplo, de estar tão "puto" e de saco cheio de certas coisas, que surge a necessidade de colocar tudo pra fora, desaguar tudo em textos e escritas. Porém, como escrever a partir de sentimentos tão passageiros? Ocorreu um exemplo disso outro dia. Era sábado, e eu estava realmente "P" da vida com as atitudes de um certo grupo de adolescentes. Adolescentes, caramba! Jovens, pô, que poderiam estar mostrando ser pessoas de fibra e caráter, determinadas, criativas, autênticas. Pessoas de atitude, com A maiúsculo! Ao invés disso, mostravam-se tão bobos, chatos, sem sal, hipócritas. Fiquei com raiva disso. Quis escrever sobre aqueles jovens, esse tipo de hoje em dia, que tem um "dane-se" pra tudo na ponta da língua.
 Comecei a escrever. Parei ainda no inicio do primeiro parágrafo, depois de cinco linhas escritas, para fazer uma tarefa qualquer. Voltei, já não tão "puto" assim, para continuar a escrever. Consegui? Não! Pois não havia mais raiva,  nem indignação, contrariedade ou rancor. Escorreram do meu corpo e levaram junto a minha vontade e criatividade para descer a lenha nos caras. Não escrevi nada.
 É muito transitório. Sentimentos passageiros que normalmente influenciam em diversas situações. O bom é que eu também estou só de passagem, igualmente transitório. O que eu vier a escrever ou postar aqui, talvez possa ser reflexo apenas daquele momento. Posso simplesmente acabar de escrever e já não estar pensando daquele jeito. Não estou aqui pra sentenciar nenhuma verdade, afinal. Pois eu sou uma contradição, eu mudo. Ainda bem!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Que raio de nome é esse???

OK. Essa é a pergunta mais óbvia e a mais esperada que se faça sobre o blog até agora, afinal este é só o começo e há quase nada de conteúdo nessa joça.
Pois bem! Aproveitando o ensejo, oremos: Nadafinga é uma expressão popular que surgiu no filme natalino "Uma História de Natal", de 1983. É usada quando a pessoa quer expressar que não gostou de alguma coisa mas não encontra as palavras certas.
A expressão (e seu significado, é claro) foi a musa inspiradora para a criação do blog. Porém, tenho a impressão de que o conteúdo mostrado aqui fará com que o blog alcance um significado maior e mais além do que o simbolizado pela expressão que o nomeia. Afinal, detestar algo mas não conseguir se expressar sobre isso por não encontrar as palavras certas, acaba sendo uma situação em que é preciso encontrar um outro modo de colocar tudo pra fora, não? É aí que entra a criatividade para cumprir seu papel. O que nos remete a um forte sentido de liberdade também.
Ah, liberdade! Achar outro caminho? Criar, talvez? Ora, senão um caso de desapego?!
Não sei se esse raciocínio é "entendível" à uma primeira e simples leitura, sem fazer uma análise/reflexão à respeito (análise/reflexão? Que droga de se fazer lendo um blog! Eu e minha mente borbulhante!), mas é isso. Esse é o blog. Transmitir o que se gosta e o que se detesta. O que aconteceu, acontece ou pode vir a acontecer. O que se faz, ouve ou vê. Seja atraves de palavras ou não. Talves nem sempre com criatividade ou ideias louváveis, mas com toda liberdade que se pode buscar. GET UP AND GO!!!

domingo, 30 de janeiro de 2011

E ENTÃO, ANTES TARDE DO QUE NUNCA!!!

Esse blog existe desde novembro de 2010. Porém, meu incansável esquecimento (ou seria preguiça?) sempre arranjava um modo de me dopar. Motivo pelo qual venho postar apenas hoje, já dia 30 de janeiro de 2011, depois de uma luta sangrenta contra o meu esquecimento/preguiça, numa tarde escaldante de domingo.
Sempre tive algum tipo de ligação com a escrita. É algo com o qual me sinto bem à vontade. Sem falar que nunca fui ruim em produção de texto na escola, rsrsrsrrsrs. Porém, isso foi algo que eu sempre ignorei.
Se escrever nunca foi algo do qual eu sempre fiz questão, observar e pensar vai pelo caminho oposto. Nem sei se penso sobre tudo, sobre o que realmente vale a pena. Só sei que penso muito. Penso no que tenho medo, no que não tem resposta, no que é triste, no que não deu certo, penso em situações que nem aconteceram realmente. Não que pensar sobre essas coisas seja ruim. Ruim é pensar e não fazer nada. Faz mau. Envenena!
E um dia comecei a perceber isso. Me perguntei "O que eu faço? O que eu estou aprendendo? O que eu estou transmitindo?". A resposta eu já sabia há muito tempo, mas mesmo assim, funcionou como um tapa na cara: "NADA!".
Por algum motivo estranho e misterioso, admitir isso de forma definitiva me deu uma vontade enorme e prazerosa de mudar. Acordei uma parte de mim que estava dormindo. Decidi na mesma hora aprender algumas coisas, correr atras de outras, seguir com algumas e deixar outras pra tras.
Assim, dentre tantas ideias, uma era criar um blog, o Nadafinga. Um espaço onde eu quero me expressar sem regras pré-estabelecidas, sem receio ou pudor. Um lugar onde se pode construir ou desconstruir, sem a obrigação de ter sempre como resultado final algo bonito ou agradável.
O blog pra mim acaba funcionando como um espelho, onde eu posso olhar pra eu mesmo e identificar mudanças, qualidades e imperfeições. Quero escrever sobre o mundo, sem restrições, e quem se interessar e quizer interagir, seja benvindo, vai ser legal!!!