segunda-feira, 4 de abril de 2011

O último desabafo que faço por você


 E então você chegou. Tímida, isolada, sentou em uma das últimas cadeiras, no fundo da sala. Os cabelos presos em um rabo de cavalo perfeito, aquele típico All Star oscilando entre a cor braca e creme, e você mordendo a pontinha do dedo indicador com uma cara meio inexpressiva.
 Te observei, cada detalhe, cada ato. Não apenas pela beleza física, mas também por sentir que você exalava algo diferente. Emanava mais força do que delicadeza, transmitia uma naturalidade incrível, parecia possuir mais atitude do que a maioria das meninas de sua idade. E nossos olhares se encontravam. Você devia me achar muito estranho, e eu era (sou) mesmo!
 Você foi se enturmando, se abrindo, e começamos a conversar. Formamos aquele grupinho esquisito, porém legal, e você se mostrando e confirmando tudo o que eu já achava que fosse. O tempo agia, e junto dele meu sentimento por você se mostrava mais claro e mais forte, à cada prova de matemática, exercícios de genética e textos de filosofia.
 Vários olhares cobiçosos cairam sobre você, cantadas, caras querendo ficar com você e, olha só, até pedido de namoro aconteceu. E eu reprimindo a minha vontade de dizer o que você já sabia, mas queria ouvir da minha boca. Talvez eu não me achasse bom o bastante pra você, e este sempre foi o meu problema, "achar" demais, pensar em excesso. Perdi oportunidades com você, inclusive uma, que considero a mais importante, que surgiu numa certa noite de festa junina escolar. Aliás, você insiste em dizer que não se lembra do que aconteceu.
 Uma das melhores e piores características do ser humano é que ele se adapta às situações. E assim aconteceu. Vieram as crises de ciúme exagerado, perguntas incômodas, gastos absurdos com conta de telefone. Transformei meu MSN em um santuário seu. E me acomodei. Me acostumei com toda a situação.Você provavelmente foi se incomodando, ficando frustrada com minha falta de coragem e atitude. Mas você se divertiu também, não é? Riu do meu vício, da minha insistência em te colocar em um pedestal, do meu ciúme bobo e descontrolado. Mas isso não importa mais. Só te culpo pelo único fato de ter agido de uma forma que me fez permanecer neste erro ainda por um bom tempo.
 E hoje aqui estamos nós, ambos seguindo em frente, você insistente na arte de me ignorar. Mas eu precisava disso, precisava decretar o desabafo final. Achei que fosse algo parecido com a morte, em que você aprende a viver sem a pessoa, porém sempre sobra aquela saudade, até mesmo inaceitação, inconformidade. Mas eu estava errado. Tem sido bem mais fácil que isso.
 E caso chegue a ler isso algum dia, não se ofenda. Sou apenas eu, exercendo meu desapego.

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